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Infernos Astrais e outras histórias

  • Milena Velloso
  • 10 de mai. de 2017
  • 4 min de leitura

O último post do Vida no Vale de 2016 saiu exatamente no dia em que completamos dois anos no Vale e o primeiro de 2017 quase saindo hoje, há 7 dias do meu aniversário e quase transcorridos meio ano desde o último. Assim que há 900 dias fincamos nossa barraca por essas terras e iniciamos o que seria, com certeza, a maior aventura de nossas vidas. Nossa primeira ceia de natal foi ao lado da Barraca, próximo a uma fogueira improvisada, no local onde um dia iria ser uma casa. A luz ainda não havia chegado, nem as obras da casa haviam começado, muito menos a grana que iria viabilizar isso tudo. Apesar de todas essas incertezas a barraca estava montada: 13 m² de lar, pequena, aconchegante e iluminada por velas. Cada cantinho dormia um. Ali seria a nossa casa pelos próximos quatro meses no mínimo. Hoje, quase três anos dois Natais depois muita coisa mudou, e como diz o amigo Antonio Olavo, tudo e todo mundo está mudando o tempo todo, alguns para melhor e outros para pior e não estivemos, nem o Capão , imunes a essa regra!

Como conseguimos até hoje eu não sei, tão pouco me recordo do tempo passado e vivido dia após dia, 125 dias, e cada dia tinha sua agonia, mas também muita alegria. A construção de uma relação com a vida completamente diferente. Segurança, conforto, luxos saíram de cena e deram lugar para trabalho árduo, a vivências diárias com a natureza, fomos convidados a viver no presente, desde o amanhecer até a noite cair todas as nossas forças eram voltadas para o desafio daquele instante. Revisitando agora esse lugar é que me dou conta que estivesse eu completamente só , provavelmente atribuiria a algum devaneio da minha mente, o que já aconteceu antes com certeza! Nossos vínculos e capacidades afetivas foram testadas ao limite dos 13 m² de convivência íntima diária, receio que nossa criatividade também, principalmente nos dias de chuva e foram muitos naquele período.

Escrever sobre a Vida no Vale estava diretamente relacionado com as escolhas radicais que fizemos com relação a viver aqui e á medida que a vida aqui foi exigindo as mesmas demandas e desafios que a vida em qualquer lugar pede como trabalhar sistematicamente, participar de reuniões de escola, ir ao mercado e etc você vai se dando conta que a vida é vida em qualquer lugar, que ela é uma reflexo dos seus anseios e desejos internos muito mais do que as demandas e especificações técnicas de qualquer lugar, até porque a gente acaba sendo a gente onde quer que a gente vá, como lindamente cantou Gonzaguinha. Mas a bem da verdade, lá no fundo , bem escondido até de mim mesma é que experimentei e venho sentindo isso por um tempo já uma leve perda de sentido em estar aqui. Eu até ousaria citar o Capital Inicial quando ele cantou “sob um leve desespero que me leva que me leva daqui”, mas não costumo me valer de coxinha para provar minhas mal fundadas teses sobre mim mesma, nesses momentos prefiro me agasalhar em Grouxo Marx e afirmar que não faço parte de clubes que me aceitam como sócia.

Para algumas pessoas e talvez eu simplesmente seja uma delas, a vida será sempre uma experiência de não pertencer, de não fazer parte de nenhuma tribo de nenhum lugar. O desafio é viver é esse apartamento e sustentá-lo com o mínimo de charme e o máximo de alegria possíveis. Outro dia comentando com um amigo e ex-vizinho entre um café e cigarrinho que eu era nativa demais para os alternativos e alternativa demais para os nativos, ele me disse que eu era feliz porque estava no limbo e supostamente esse lugar é bom. Não sei quanto a isso, até porque aprecio sem nenhuma moderação a convivências com tantos queridos e me lembro por demais da conta da primeira chegada por aqui, ainda no início dos anos 2000, Ananda um bebê e Marina apenas um sonho, me recordo quão forte e intenso foi o chamado para vir morar aqui, chamado esse que só foi atendido somente uma década depois . É ainda muito forte a presença dessa lembrança afetiva em mim, a forma acolhedora e irrestrita que fomos tratados pelos moradores do fundo do Vale e outros. D.Dinha, Sr Almir, Cecília do Doce Mel , Sr. Santinho e Sr. Dozinho, a confiança era absoluta e a relação era destituída de qualquer desconfiança ou interesse, era uma troca singela e absolutamente verdadeira. Pois que provavelmente julgamos que seria assim todo o tempo com todas as pessoas caso escolhêssemos viver aqui. Imagine só que devaneio de mente e espírito??? Tudo bem para alguém como eu fantasiar isso, mas meu marido acreditar e embarcar junto, ah isso foi imperdoável!

O fato é que viemos, estamos aqui e existem milhões de coisas, aspectos, experiências e aprendizados lindos, que dariam uma bíblia ou um O Capital inteiros de tão ricos, um verdadeiro convite ao aprofundamento da experiência para um nível mais interno de reflexão e transformação, mas a bem da verdade é que o que mais me falta aqui é quando os amigos queridos vêm visitar e ficamos horas tomando todas as verdinhas geladas no flamboyant em dia de feira e feriados. Talvez não seja tão difícil fazer novos amigos mas tão pouco o é prescindir dos velhos , pelo menos para uma taurina como eu. Nesses raros momentos ,a vida flui na confiança de estar em casa e damos boas risadas da vida e das besteiras que fazemos dela e de nós mesmos!!!


 
 
 

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