Logo logo as aulas iniciariam, assim começamos a organizar documentos e rotinas para os meninos frequentarem as escolas locais. Sim, escolas: três diferentes. Luan com 14 anos ficaria na municipal, que alguns poucos falavam bem e muitos falavam mal. Muitas aulas vagas e reformas que não são feitas, enfim, escola pública, que no Brasil ainda é uma aposta de risco. Ananda, a do meio, estudaria no Brilho de Cristal, escola comunitária fundada no Vale há mais de 20 anos, um projeto belíssimo e estávamos encantados por proporcionar essa experiência para ela. Marina, a de 3 anos estudaria no Jardim Waldorf dos Vagalumes, uma escola maravilhosa de cuja pedagogia já éramos bastante familiarizados - Nete e suas educadoras incríveis levam ludicidade, sensibilidade e beleza para mais de 20 pequeninos do Vale. O desafio com a pequena seria o processo de adaptação pois ela nunca havia estudado antes e assim fomos eu e Lelo, nos revezamos por duas semanas para que ela enfim, ficasse firme , sozinha e feliz no seu novo espaço... e nós livres por 4 horas, sem filhos.. para lavar, limpar , cozinhar , ler, e claro, namorar um pouquinho... Que com 3 filhos morando em uma barraca, é uma equação quase impossível. Quando as aulas iniciaram em fevereiro/março tivemos doces surpresas: a escola de Lu se mostrou bastante interessante, professores com vidas ricas e cheias de sentido que compartilhavam essa riqueza e desejo de crescimento com os alunos, um professor de ciências que havia participado do processo de formação do movimento nacional dos catadores, causa essa que pessoalmente sou apaixonada e defendo com mente e coração; uma professora de geografia que havia fundado a escola Brilho e tinha uma trajetória de luta e uma caminho muito bonito no Vale; e uma professora de matemática que também era professora de Marina às quintas no Vagalume, uma figura incrível , generosa e cheia de vida.
Pensamos: ufa, menos uma preocupação, os meninos estão todos bem, e nós o que faremos agora para trabalhar e sustentar essa caminho escolhido? começaria então o capítulo mais desafiador, o de como gerar o sustento no Vale... mas esse capítulo teremos que escrever aos pouquinhos, receio que a resposta não seja assim tão simples e rápida, espero que até lá os céus se abram, afinal esamos fazendo o nosso dever de casa na terra.