Guimarães Rosa escreveu em Grandes sertões que quem escolhe a busca não pode recusar a travessia e quem haveria de discordar de Guimarães? Eu que não.. e assim o segui, na fé e na coragem, movida por um impulso caótico. No final de 2014 eu e meu marido deixamos pra trás carreiras promossoras: eu como coordenadora de projetos em uma ONG de Salvador e meu marido , uma assessoria de imprensa do senado federal. Ele, Lelo parecia estar resoluto e muito bem tranquilo com a decisão de partir, depois do surto quase colérico da decisão, eu sofri bastante, embora soubesse que minha alma desejava isso há muito tempo, muitos fatores me prendiam a minha vida: sete anos atuando em uma comunidade, os laços afetivos que fiz com as pessoas dessa comunidade, as crianças do projeto que trabalhava, enfim, eram tantas coisinhas que iam se somando, não achei que tivesse coragem de sair, mas um dia, um fato inustiado e sem importância me desvinculou completamente do lugar e de tudo que tivesse haver com aquele trabalho, na verdade, olhando hoje para trás vejo mesmo que aquilo foi um presente que eu recebi, algo que precisava ganhar para abrir mão de vez e me jogar. Assim, no dia 20 de dezembro, quando comemoramos 16 anos de casados deixamos para trás; emprego, casa bonita com piscina e quintal, escolas, projetos, uma vida trilhada de caminhos retos e caímos na estrada. Viemos para o vale depois de nove anos ensaiando esse (des)encontro com ele.